29/07/2013

A retomada da vida sexual pós-parto: PARTE 1. Escrito pela Enfª Profª Drª Olga Regina Zigelli Garcia.

         Tive o primeiro contato com a profª Olga, eu estava na 3ª fase da faculdade de enfermagem, em uma palestra sobre sexualidade na Universidade. Além dela ser uma pessoa muito carismática, o tema que ela ministrou me chamou muita atenção. Ela foi minha professora mais tarde na disciplina de obstetrícia, que é claro, eu amei de paixão. Acabei fazendo meus trabalhos de conclusão da graduação e especialização nesta área. Mas o interessante, é que mais ou menos uns 3 anos depois, inspirada naquela palestra, comecei também a ministrar sobre sexualidade para mulheres da minha Igreja. Foi muito legal porque logo depois meu marido se empolgou e começou a ministrar a mesma coisa para os homens, e depois, passamos a palestrar juntos para casais. Foi muito gratificante! Era lindo de ver como as pessoas estavam empenhadas em fazer seu casamento melhorar... 
         O que eu quero dizer com tudo isso? Que vale a pena ler o que ela escreveu especialmente para vocês mamães e papais... Vamos dividir o post em duas partes, pois o assunto é um pouco extenso e não vale a pena resumir, pois ficou muito bom!!!! 

                       
   
     O período do pós-parto caracteriza-se, para a mulher, por um conjunto de alterações biológicas, psicológicas e sociais intensas que podem ser fonte geradora de dúvidas com impacto substancial sobre a vivência da sexualidade, uma vez que é um momento de maior vulnerabilidade para o início ou agravamento de dificuldades sexuais emergentes ou pré-existentes.

     Vários estudos apontam que, no pós-parto, a maioria dos casais (20 a 60%) sente receio de reiniciar a atividade sexual coital. Quarenta por cento das mulheres experienciam dor durante a primeira penetração; seis meses depois, 16% das puérperas que não se encontram amamentando e 36% daquelas que se encontram em período de amamentação sofrem de dispareunia (dor à penetração). Cinquenta e sete por cento das puérperas encontram-se preocupadas com a satisfação sexual do parceiro e, a longo prazo, o relacionamento sexual de um terço dos casais piora.

     A partir do parto, a lubrificação vaginal, por efeito da prolactina (hormônio que estimula a produção de leite) torna-se escassa durante toda amamentação. Ocorre uma modificação da temperatura, lubrificação e textura vaginal, tão logo se finaliza a loqueação (nome atribuído ao fluxo sanguíneo via vaginal no puerpério).

   A atrofia vaginal (fenômeno pelo qual os tecidos da vagina ficam mais finos, secos, retraídos), frequentemente observada nesse período, pode ser a causa do desconforto e até de sangramento durante a penetração vaginal.

     Ocorrem também durante o puerpério, alterações emocionais que levam a mulher a vivenciar momentos de alegria, mas também experiências e emoções muito fortes, como enjôo, cansaço, tristeza e confusão. Neste contexto são comuns sintomas como ansiedade, tristeza, alterações do sono ou do apetite etc., que acompanham a falta de desejo no puerpério.

     Em geral, a mulher só estará disponível para uma relação sexual noventa dias depois do nascimento do bebê. Antes disso, por se sentir muito ligada ao recém-nascido e ter de se dedicar quase que exclusivamente a ele, a mãe tende a se afastar do parceiro. Isso não significa que deixou de gostar do companheiro, mas sim que vivencia um período de acomodação dos seus afetos.

    Como visto o período pós-parto, também chamado puerpério, pode se constituir em uma fase crítica para o início ou agravamento de problemas sexuais, na medida em que, desejo, interesse e atividade sexual tendem a diminuir, durante este período. Neste período a sexualidade feminina tende a sofrer impacto da transição do papel de mulher para mãe, mudanças na imagem corporal, satisfação no relacionamento, humor, fadiga e ansiedade ou apreensão em relação aos cuidados com o bebê e alterações físicas associadas ao puerpério e amamentação.

     Dentre as principais alterações que afetam a sexualidade no puerpério (período pós-parto) destacamos:


1 – Mudanças hormonais

   Após o parto algumas mulheres podem ter uma baixa na libido (desejo sexual) e o conseqüente desinteresse pelas relações sexuais, ou mesmo ter ausência de desejo ou ainda respostas sexuais diminuídas pela ação hormonal, em especial pelos altos níveis de prolactina e a consequente diminuição do estrogênio. O défict de estrogénio e progesterona e o aumento da prolactina são fatores de redução da resposta sexual na mulher no pós-parto, contribuindo para a insuficiente congestão e lubrificação vaginal, levando a chamada “secura vaginal”.

     A queda acentuada dos estrógenos no puerpério incide notavelmente na diminuição do desejo. Para além disso, os hormônios envolvidos na amamentação (prolactina) e também a progesterona diminuem o apetite sexual nos pós-parto e levam ao ressecamento vaginal e aumento da sensibilidade genital aumentando a fragilização da mucosa propiciando a dispareunia (dor à penetração vaginal).

2 - Novo contexto de vida

     O ajustamento às mudanças do papel social (papel de mãe, papel profissional) na adaptação ao papel materno, satisfação conjugal, fadiga e a amamentaçãoinfluenciam a vivência da sexualidade do casal. A dicotomia da imagem da esposa como mãe em contraste com sua imagem de objeto sexual pode reduzir o desejo sexual de ambos os parceiros.

     O nascimento de um filho e todas as mudanças decorrentes podem propiciar problemas de ordem sexual difíceis de ultrapassar. O período pós-parto, embora seja uma fase de transição, implica novos equilíbrios, adaptações e uma nova integração da sexualidade.

    No puerpério a rotina do casal muda. Atender ao choro de madrugada, amamentar, trocar fralda, ter rachaduras nas mamas, o incômodo da episiotomia (corte realizado na saída lateral da vagina em mulheres que tem parto vaginal), ou da cesárea, são fatores que interferem negativamente na retomada da vida sexual e sendo assim a libido da mãe e do parceiro pode ser alterada pela nova rotina da casa e pelas novas preocupações. Assim, a disponibilidade e a importância dada para as relações sexuais mudam e interferem na dinâmica do casal.

3 – O medo da dor durante a penetração

     É bastante significativo o impacto que a dispareunia apresenta em mulheres até seis meses após o parto, levando-as a criar expectativas negativas face à experiência de coito. O fato de mulheres experimentarem dor e desconforto durante a penetração leva a uma fraca motivação para a atividade sexual coital, diminuindo a sua frequência em ocasiões subsequentes.

     A dificuldade na lubrificação pode dificultar o sexo e às vezes causar dor e desconforto o que leva ao medo da dor na atividade sexual e quando esta ocorre pode estar relacionada à cicatrização dos pontos ou ao medo de sentir dor, devido a lembranças do parto. O medo pode criar tensão e provocar a contração da musculatura ao redor da vagina, o que, por sua vez, dificulta a penetração e causa dor. Nestes casos o uso de lubrificantes vaginais aquosos está indicado no reinício da atividade sexual coital.

                         

     No próximo post, a parte 2!!! Aguardem!!!!

Olga Regina Zigelli Garcia
Enfermeira.
 Profª do Dpto de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.
Doutora em Ciências humanas com área de concentração em e estudos de gênero.