30/07/2013

A retomada da vida sexual pós-parto: PARTE 2.

                                               


     A liberação para atividade sexual após o parto

     Cientistas britânicos publicaram um artigo na respeitada revista Post-gratuate Medical Journal afirmando que a pratica do sexo nas primeiras seis semanas após o parto pode por em risco a vida da mulher.Segundo o artigo, nesta fase o útero – local de fixação da placenta – ainda não cicatrizou, apresentando vasos sanguíneos abertos e sem proteção. Durante o ato sexual é comum que o ar seja forçado para o interior do útero, aumentando assim a pressão dentro do órgão, o que possibilita a passagem de pequenos volumes de ar para dentro dos vasos, produzindo bolhas. Na presença de gases, o sangue coagula e pode ocasionar embolia ou obstrução total do vaso, o que é fatal. O estudo é baseado em casos e cita duas jovens – 22 e 20 anos – que morreram durante a relação sexual num período de cinco a oito dias após o parto. Segundo os especialistas, como poucos casais praticam sexo nas primeiras semanas após o parto, o risco de vários casos torna-se pequeno. Ainda assim, os especialistas alertam para o perigo, principalmente em algumas posições. De acordo com o médico Philip Batman, coordenador da pesquisa, o risco é maior quando o útero fica mais elevado do que o coração. Após seis semanas do parto, o sexo passa a ser totalmente seguro porque o útero já está totalmente cicatrizado

     Retome a sua vida sexual sem restrições depois da consulta de revisão do parto. As mulheres, que quiserem ter relações sexuais antes da consulta de puerpério devem fazê-lo com preservativo, para diminuir o risco de possíveis infecções.

     Não há fórmula nem receita para o regresso à vida sexual; cada casal tem o seu ritmo e o seu tempo, embora geralmente as relações coitais possam ser retomadas 45 dias depois do parto, uma vez que desaparecem os lóquios (perdas de sangue). De todas as maneiras, dependerá de como foi o parto, se foi realizada uma episiotomia, se houve uma boa cicatrização dos pontos, ou se foi uma cesariana. Neste último caso, terá de esperar a alta médica para o retorno a atividade sexual.

                    

     Não poderia terminar este artigo sem uma importante informação: ATIVIDADE SEXUAL NÃO É SINÔNIMO DE PENETRAÇÃO VAGINAL!!

     A atividade sexual não se resume à penetração vaginal e sim é toda forma de dar e receber prazer, sendo assim pode ser exercida durante o pós-parto no momento em que o casal sentir-se apto para tanto.

     Existem manifestações da sexualidade alternativas ao coito e, portanto, opções não coitais para satisfação do desejo sexual, para expressão da intimidade, do prazer e afeto mútuo. Todas as práticas sexuais são possíveis (excluindo-se a penetração vaginal nos primeiros 45 dias de pós-parto). Tal fato pode inclusive enriquecer a experiência sexual do casal através do uso da criatividade para práticas alternativas do exercício da sexualidade. . Neste sentido devem ser discutidas outras opções de práticas sexuais, tais como sexo oral ou a masturbação mútua, enquanto métodos de expressão de afeto íntimo enquanto o intercurso pênis-vagina estiver contra-indicado. Os beijos, as carícias e as expressões verbais e corporais afetuosas fazem o bem-estar quotidiano e ajudam na boa comunicação, dado que se tratam de manifestações saudáveis e muito necessárias para este momento tão complexo da relação.

     A maioria dos casais tende a considerar sexo apenas a relação genital. Mas não é bem assim, principalmente em uma fase em que a mulher se recupera de um parto. Tão importante quanto a cópula em si é o enamorar-se. A dica aqui é abusar de abraços, beijos e carícias. Dar as mãos sempre que possível, não poupar afagos, trocar galanteios e provocações, enfim, manter acesa a chama que une o casal. Essa cumplicidade ajuda a preparar o terreno para a retomada do sexo.

     A ausência de outras práticas sexuais que não seja a penetrativa é um grande obstáculo, bem como a dificuldade em aceitarem a sugestão da estimulação através do toque, como a prática masturbatória ou ainda o sexo oral. Quando a vida sexual se resume à penetração, o casal corre o risco de ficar um tempo prolongado sem atividade sexual, o que pode trazer repercussões negativas para o relacionamento. Mesmo que no pós-parto a penetração esteja contra-indicada, isso não é motivo para as mulheres se afastarem dos seus companheiros, porque o sexo é um mundo vasto de experiências em que a penetração é apenas uma das formas de obtenção de prazer. É importante a dissociação de sexo com genitalidade e penetração, na medida em que permite a retomada da vida sexual a qualquer tempo, desde que a mulher/casal tenha interesse e disposição para tanto, propiciando autonomia para retomada do exercício da atividade sexual no pós-parto, além de apontar para uma possibilidade de incremento da vida sexual fora do período puerperal.

     Por último importante dizer que estudos apontam que em média um terço das mulheres tem retorno do desejo sexual após 45 dias do parto e praticamente 100% tem o retorno do desejo sexual após três meses. Após este período mulheres que continuam com desejo sexual inibido costumam ter como causa a depressão pós-parto; dispareunia ou baixo desejo sexual anterior à gravidez e, neste caso devem procurar ajuda profissional.

                      

Olga Regina Zigelli Garcia
Enfermeira.
 Profª do Dpto de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.
Doutora em Ciências humanas com área de concentração em e estudos de gênero.


     Referências

American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornosmentais. 4 ed. Texto revisado DSM-IV-TR. Porto Alegre: Artmed; 2002

Barrett G et al. Women´s sexual health after childbirth. British Journal of ObstetricsandGynecology 2000; 107(2): 186-95.

BERGAMIN. E. Sexualidade no período puerperal. Monografia (Especialização em enfermagem Obstétrica). Universidade do Contestado. Concórdia, 2010.

BIA, F. M. M. A outra face da maternidade. Nursing: revista de formação contínua em enfermagem. - ISSN 0871-6196. - A.22 , Nº 260 (Ag. 2010) , p. 8-18. Disponível em: http://www.forumenfermagem.org/index.php?option=com_content&view=article&id=3573:sexualidade-pos-parto-a-outra-face-da-maternidade&catid=217:setembro-a-outubro-2010. Acesso 19/07/2013

DEJUDICIBUS, M.A.; MCCABE, M.P. Psychological factors and the sexuality of pregnant and postpartum women. The Journal of Sex Research, v. 39, n. 2, p. 94-103. 2002.

GARCIA, O.R.Z.. Resposta Sexual Humana e sexualidade feminina. Da Realidade à possibilidade de assistir em enfermagem. IN: ZAMPIERE, M.F.M.; GARCIA, O. R. Z. (org). Enfermagem na atenção primária à saúde da mulher: textos fundamentais. Florianópolis: UFSC, 2007

"Olga, sei que você tem muitas atribuições na Universidade, mas mesmo assim não hesitou em escrever para nós!!! Eu amei o texto e tenho certeza que muita gente gostou também. Volte sempre ao nosso blog para contribuir com os nossos conhecimentos... Muito obrigada!!! Enfermães unidas em favor das mamães!!! hehehe... Beijinhos, Vanessa."